Bom dia! E não é que hoje, ao ir ao espelho chamar-me de esperta (😆 versão inventada, fui propositadamente ver que tal estava a minha pálpebra), vejo um tom vermelho indicativo de que a hemoglobina não estará muito baixa e a precisar de transfusão? E juro que não passei nenhum dos meus 💄 😂 Ontem estava mais branca e por isso considero isto uma vitória que merece ser celebrada!
Quando assinava o consentimento para o novo tratamento, disse em voz alta "Esta é a minha cura". Uma crença que tinha tanto de oca quanto de esperançosa. Ainda não tinha começado, não sabia o que me esperava, mas tinha de acreditar. Estar no IPO, como todos sabem, foi melhor do que alguém imagina. Fui acarinhada todos os dias e adaptei-me a uma nova vida lá. Criei uma vida que me fazia feliz, quando não tinha sintomas físicos que impediam essa felicidade. Parabéns a mim. Provei uma vez mais o quão adaptável consigo ser. Mas, é esse o caminho certo? O que maximiza a minha felicidade? O que me pertence verdadeiramente? Ou a que eu pertenço verdadeiramente? Se calhar não. Por mais que os meus anjos de lá tornassem tudo melhor, não conseguiam tirar-me de um ambiente hospitalar que transpirava, por tudo quanto era parede, lembranças do motivo de ali estar. Estou em casa há 19 dias, que mais pareceram 7. Cá fora o tempo passa mais rápido, talvez por não estar na ânsia de esperar pela colheita de análises e visita do médico da manhã seguinte - a minha porta de saída de um episódio para começo de um novo, ou entrada num episódio sobreposto ao que estava a decorrer, que tornava sempre tudo mais confuso e intenso. Cá fora estou mais perto do meu caminho e, por isso, de mim. Ou vice-versa, não sei bem. O que parecia oco no dia 5 de Dezembro (dia em que assinei o consentimento) hoje tem muito mais forma e conteúdo. O meu corpo gosta mais deste ambiente. E estas doses diárias do amor de sempre, da energia de sempre e das pessoas de sempre são paralelamente um efeito secundário de um tratamento via oral que não me obriga a estar internada e parte da minha cura, não querendo claro subestimar a importância do medicamento em si.
Ontem fui presenteada com um maravilhoso amanhecer e um há muito desejado pôr-do-sol na praia. Estive com duas pessoas que já não via há muito tempo (a.c. - antes do cancro). Acredito que essas benesses, entre outras, ajudaram a que uma pálpebra mais esbranquiçada passasse a um tom que representa o coração e o amor. E é encontrando-me no meio de um círculo vicioso que acredito mais neste tratamento, círculo vicioso este estimulado por duas grandes forças: a interior e a exterior, em que a segunda influencia a primeira para que esta abra a sua mente e coração. Tenho neste caminho de transformação anjinhos de mãos dadas comigo. Alguns deles de carne e osso e outros que não vejo, mas que todos os dias imagino, pelo menos no meu ritual de toma de medicação. Aos que estão fisicamente neste mundo comigo, agradeço profundamente o quanto me têm aberto a mente e o coração e por serem um veículo de conexão com os demais.

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