Hoje acordei melhor. Com algumas dores mas efectivamente muito menos. O mal tinha saído de mim. Ainda fiz febres e tive pouco tempo útil em que me sentia bem. A minha prima Bárbara veio visitar-me mas, como eu estava a dormir e com febre, não a queriam deixar entrar. Acordei e pedi que a deixassem entrar. Queria muito vê-la e estar com ela. Gosto muito de falar com ela pois teve cancro da mama e é diferente de falar com quem não passou por uma doença oncológica, por exemplo. Partilhámos ideias sobre o processo e ela falou-me das coisas boas que fez por ela para ajudar a curar-se: meditação, terapia, yoga, livros que leu e que me trouxe, ... É um poço de energia! Ainda aproveitámos um bocado do meu momento bom entre febres e o resto foi para o meu irmão. Esse dia foi excepcionalmente dividido com ele, pois só tenho, por norma, direito a uma visita por dia. Com ele ainda falei um bocado mas logo logo voltaram os tremores que geralmente me levavam de novo para a cama, toda tapada, à espera dos 38º de temperatura para pedir o anti-pirético. Ficava nesse estado mais apático, a aguardar por horas melhores, sendo que as febres apareciam de 3 em 3 horas. Lamentava que me vissem assim, que a partir daí tivessem o pior de mim, e que nem um sorriso conseguisse esboçar por vezes, apesar do esforço que faziam para me tentarem animar. A comida chegou e o meu irmão estava preocupado porque não me via com vontade de comer. Nos picos de febre nunca queria fazer nada. Esperava só que o tempo passasse que é algo que me faz muita confusão, pois para mim todos os minutos devem ser vividos de forma produtiva, ou de uma forma diferente desta. O repouso é produtivo para a minha recuperação, mas não é o tipo de produtividade que mais aprecio. Quando passou esse pico, já ele tinha ido embora. Fui comer e até me soube muito bem.
Uma vida que se pode chamar de louca. Não o "louca" de outros tempos, mas o "louca" destes. Que gosto dá celebrar assim a vida, vivendo-a com todas e tantas ferramentas que tenho à minha disposição hoje. Não "todas" as de outros tempos, mas "todas" as destes. Depois de dias que, de tão preenchidos e corridos que foram, se tornaram semanas e até mesmo meses sem vir aqui ao meu querido caderno, hoje, a 17 de Agosto de 2024, não consegui terminar o dia sem expressar em palavras todas as imagens que me têm vindo à cabeça relativas a este último ano. Foi há um ano o dia em que saí, por fim, do internamento de 45 dias em que fiz o Transplante de Medula Óssea a que sempre chamei de "pior fase da minha vida", em que me encontrei despida de tudo o que me caracterizava, onde deixei de ser a que também nos dava força a nós - aqueles a quem esta maldita doença e tudo o que ela acarreta tocou: eu, a minha família, os meus amigos e os meus p...
Comentários
Enviar um comentário