Sexta-feira, dia de ver a minha médica. A diarreia não estava melhor e as minhas noites cada vez piores. A Enfermeira Ju (nome fictício) pediu à auxiliar Maria (nome fictício) que me ajudasse a tomar banho pois tinha de me pôr pronta que os médicos vinham cheios de ideias da reunião. E assim foi: novo cateter central (de curta duração - 4 a 6 semanas) e alimentação parentérica (intravenosa), sem direito a sequer ingerir água. Por um lado, agradecia porque das últimas vezes que fui à casa de banho já só dizia que nunca mais queria comer/beber. Já estava com dieta obstipante há cerca de 2 dias, mas não foi suficiente. Quando saíram do meu quarto, chorei um bocado (um choro relaxado e não aflitivo como o daquela noite) porque ia voltar à sala de intervenções. Depois dormi um bocado e, quando me chamaram, lá fui eu, mentalizada, e fui a alma daquela festa 🙂
Pus este novo cateter com o médico que me tirou o primeiro, com a Enfermeira Ju e com um dos médicos que estava presente nas urgências quando soube do meu diagnóstico. Meti conversa com todos, "gozei" com a versão que viram de mim naquela noite e pus a malta a rir-se. Claro que, como sempre, pedi aquela mãozinha amiga que me foi dada! A Enfermeira Ju ainda me fez festinhas na perna, e disse que não se lembrava de tocar num músculo assim! Ahahah na altura ainda tinha algum músculo nas pernas... Imaginem se tinha tocado logo no início 😄
Foi a Mana que me visitou nesse dia e esteve a massajar-me os pés a ver se desinchavam. A AP (alimentação parentérica - intravenosa) nesse dia era rissóis e húngaros! Clarooooo... Nos dias seguintes ainda continuei a escrever no saco a ementa do dia, mas depois deixei-me disso, já não tinha tanta piada 🙂
Ainda estava com diarreia e estes foram, sem dúvida, os piores dias até então, pois a combinação de sintomas era estrondosa e deitou-me realmente abaixo (febre, dores inimagináveis no cateter e diarreia). Na prática, isto traduzia-se em ir a correr para a casa de banho a tremer por todos os lados e, ao levantar-me da cama, apesar de todos os malabarismos, não tinha como não fazer força no peito e no pescoço, o que activava ao máximo as dores nessa zona. O simples facto de ter de abrir e fechar a porta da casa de banho para ter alguma privacidade, caso alguém entrasse no quarto, tinha um custo: mais dor porque a porta ainda era pesada e mais tempo que demorava a chegar à sanita o que era suficiente para me sujar algumas vezes. Ainda me falaram na possibilidade de me algaliarem porque a urina que pesavam (sim, tinha de usar uma cadeira-sanita para fazerem as pesagens) nem sempre era satisfatória, dada a quantidade de líquidos que ingeria. Não me fazia sentido nenhum aquilo. Apesar de estar com retenção de líquidos, com o peso a aumentar a olhos vistos e inchadíssima (julguei até que ia ter de pedir as sapatilhas ao meu pai para poder sair daqui), a algália ia resolver a questão do controlo das pesagens segundo me explicaram, mas na verdade o que eu precisava era de diuréticos para expulsar os líquidos. Eu conseguia levantar-me para ir à casa de banho e mesmo que não conseguisse, perante tal cenário, nem que fosse a rastejar, ia! Tudo menos a algália! Vi mais uma vez a minha veia de médica de bancada a enfurecer, bati o pé perante tal possibilidade e a verdade é que com os diuréticos chegámos ao objectivo. Foi sem dúvida uma das fases de maior degredo esta. Ainda bem que questionei porque no meio de tudo o que já estava a acontecer, não tinha de passar por mais esse desconforto. Assim como o de ter a cadeira-sanita no meio do quarto. Qualquer pessoa que passasse pelo quarto e olhasse pela porta via tudo, por isso assim que consegui fui eu mesma devolvê-la à casa de banho.
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