Avançar para o conteúdo principal

📝 Terça-feira, 11 de Outubro de 2022 - Intern. dia 5



    Bom dia com Soooool 😄
    Ontem não vim aqui. Dias muito intensos estes! Contar ao pessoal no trabalho e a mais umas quantas pessoas amigas... Sinto-me muito acarinhada e grata 🙂 Viro a câmara para uma parede sem nada para não perceberem de imediato que estou no hospital. E tenho um discurso preparado em que lentamente vou encaminhando quem me ouve para a expectativa de que estou doente, tentando minimizar ao máximo o choque que é ouvir que tenho Leucemia. Eu ouvi. Eu sei como é. Mas também sei que, apesar desse esforço, não há como não ficar de boca aberta... Por videochamada foi mais difícil, principalmente as primeiras. Com os meus chefes/equipa não deu para não chorar quando por fim dizia o que tinha... Mas nada como respirar fundo duas vezes e tudo se resolve. Ao fim de umas 10 chamadas já me sentia expert na coisa. Tão expert que uma das minhas colegas achou que eu tinha uma novidade boa para contar 😮 Tive de lhe dizer que não era algo bom, apesar de estar contente por falar com ela. Estou a dar o meu melhor para tranquilizar as pessoas e de certa forma isto faz-me ter um sentido nesta caminhada: ser comunicadora e mantê-las a par para que sintam que estão comigo/a ver-me/acessíveis a mim. Saberem que vou dando notícias deve ajudar a que estejam mais focadas nas suas vidas e tranquilas.
    Ontem foi também dia de mielograma. A D. Luísa já me tinha dado alguns spoilers: agulha enorme, podia ser no esterno ou na bacia, anestesia,... Quando me disseram logo pela manhã que ia fazer o exame, fiquei super nervosa. Disse logo que não queria ver a agulha e que preferia que o exame fosse na bacia. E ali estava eu, em posição fetal. Ao menos era reconfortante e isso ajudava a apaziguar o medo. No entanto, as lágrimas eram inevitáveis. Tive comigo uma Enfermeira que foi mais do que impecável. Deu-me as mãos e falou comigo o tempo todo. Estabeleceu um equilíbrio perfeito entre fazer-me perguntas, avisar o que ia sentir e lembrar-me de que tinha de respirar e descontrair. A dada altura até lhe perguntei se dava aulas de meditação 😛 nunca vou esquecer o quão importante foi ter aquela pessoa comigo naquele túnel escuro e desconhecido.
    Entretanto tive algumas ideias 🙂

Aniversário da Mana: escrever uma carta
Origamis
 - lembrei-me disto porque quero retribuir às pessoas daqui todo o amor, carinho, força e alegria que me dão diariamente
 - pode ser uma forma de me obrigar a decorar os nomes delas, escrevendo-os
 - é um presente que quero oferecer a quem me vier visitar
    
P.S.: A minha tarde foi passada assim (a máscara era por causa das visitas)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

📝 Sábado, 17 de Agosto de 2024

     Uma vida que se pode chamar de louca. Não o "louca" de outros tempos, mas o "louca" destes. Que gosto dá celebrar assim a vida, vivendo-a com todas e tantas ferramentas que tenho à minha disposição hoje. Não "todas" as de outros tempos, mas "todas" as destes.     Depois de dias que, de tão preenchidos e corridos que foram, se tornaram semanas e até mesmo meses sem vir aqui ao meu querido caderno, hoje, a 17 de Agosto de 2024, não consegui terminar o dia sem expressar em palavras todas as imagens que me têm vindo à cabeça relativas a este último ano. Foi há um ano o dia em que saí, por fim, do internamento de 45 dias em que fiz o Transplante de Medula Óssea a que sempre chamei de "pior fase da minha vida", em que me encontrei despida de tudo o que me caracterizava, onde deixei de ser a que também nos dava força a nós - aqueles a quem esta maldita doença e tudo o que ela acarreta tocou: eu, a minha família, os meus amigos e os meus p...

📝 Sábado, 10 de Agosto de 2024

    E não há dias de folga. Todos os dias temos de monitorizar a variação de sintomas já existentes, aparecimento de novos, encontrar padrões e possíveis justificações. Um verdadeiro scan ao corpo inteiro. É cansativo, absorvente, enclausurante, obsessivo e sufocante. Não fazê-lo pode provocar um sentimento de culpa enorme. Como se não estivéssemos a fazer tudo o que está ao nosso alcance pela nossa saúde. Como se não tivéssemos amor próprio. Ninguém o pode fazer por nós e, para contribuirmos para a decisão clínica e por vezes por receio de uma desvalorização das queixas ou de ouvirmos um "isso não é psicológico?" dito das mais variadas e eufemizadas formas, temos de reunir todos estes dados e argumentos e ser os nossos melhores advogados. Percebo o lado do profissional de saúde que tenta despistar uma possível sobrevalorização de sintomas nossa, por outros eventos da vida ou gestão de expectativas que nos possam fazer ter menos tolerância à dor/desconforto/limitação e, nesse...

📝 Sábado, 7 de Outubro de 2023 - 1 ano (parte 3)

  Outubro de 2022 - Semana do diagnóstico     Foi a 2 de Outubro (Domingo), a subir uma rua na Foz, que todos estes sintomas passaram a conversa séria. O meu pai dava-me um avanço de 20 metros pelo menos e, na brincadeira, disse-lhe que eu é que estava com péssima forma física. Ele não ficou convencido e perguntou-me o que eu sentia. Ao enumerar os sintomas, alarmado, disse que eu tinha de marcar uma consulta urgentemente. Perita em desvalorizar, disse-lhe que durante a semana tratava disso, pois até já estava na altura de fazer as análises anuais. Nos dias que se seguiram, acabei por não dar a devida prioridade ao assunto, refugiando-me na indecisão de a que médico/especialidade deveria ir.     Uma vez que ia ficar pelo Porto, queria ir a um Congresso de Salsa que ia haver no fim-de-semana seguinte (8 e 9 de Outubro) mas preocupava-me sentir que não conseguia dançar uma música completa sem cair para o lado a qualquer momento. E eis que na quart...