Acordei com mais dores na zona do cateter. Voltei a queixar-me e fui ao outro lado do IPO fazer uma TAC para percebermos se havia alguma infecção. Tive de beber água para tomar o paracetamol, depois de 5 dias sem beber um gole que fosse. Bebi a medo e foi quando me estreei nas fraldas, pois, não sabendo quanto tempo ia demorar e com este possível estímulo dos intestinos, não conseguia garantir que os controlava ou que chegava a tempo a alguma casa de banho. Demorei cerca de duas horas, não levei o telemóvel e perdi as chamadas de uma amiga com quem tinha combinado falar nessa manhã, que ainda não fazia ideia do que se passava. Pelo menos ao início estava lá uma senhora com quem comecei a falar e sempre deu para passar melhor o tempo. Mas depois ela foi embora e estive cerca de uma hora a olhar para paredes. Não fazia ideia de que ia esperar tanto tempo por isso no início não estava aborrecida. Com o passar do tempo comecei a ficar, e também com sono. Acabei por decidir enviar energias positivas para o meu cateter para que a TAC não mostrasse qualquer infecção e estive algum tempo nesse processo. Tendo noção de que já estava há, pelo menos, 40 minutos à espera sozinha, decidi tirar a carta de condução de cadeira de rodas e ir procurar alguém. Achava que a cadeira estava trancada, então destranquei-a e comecei a andar. Pareceu-me super difícil, não conseguia sequer andar em linha recta e pensei que estava mesmo fraca. Até que percebi que fui só naba e tinha decidido andar em modo difícil, com as rodas presas 😂 O objectivo pelo menos foi cumprido: fui vista e ia ser a próxima a fazer a TAC! Tinha de encher o estômago com água e lá bebi mais quase meio litro e os intestinos não reagiram 🥳 chamaram-me, por fim, e de cada vez que me pediam para não respirar parecia-me uma eternidade! Não tenho ideia de quantos segundos tive de aguentar, mas tenho muito que trabalhar quando isto terminar. Até porque quero fazer o Caminho de Santiago em Setembro, por isso terei uns meses de recuperação.
Já cheguei cá acima muito tarde e tinha tudo atrasado: banho por tomar, medicação por fazer, ... A Enfermeira que estava comigo nessa manhã também estava preocupada. Sentia-me outra! Qualquer coisa me parecia melhor do que estar a olhar para paredes 😂 se calhar este momento entediante só aconteceu para eu aprender a relativizar 🙄 A boa notícia foi que não detectaram nenhuma infecção no cateter e a TAC só tinha mostrado mucosite intestinal 🎉 Eu preciso deste cateter.
Pedi ao meu irmão que viesse mais tarde para dormir um bocado ou ia estar de rastos quando ele cá estivesse. O médico veio ver-me de tarde e o meu irmão aproveitou para lhe fazer perguntas, começando com uma bem simples: "Então, como está a Joana?". O meu irmão faz sempre as perguntas certas, e até mesmo esta que parecia ser mais vaga fez com que obtivéssemos informações preciosas sobre o processo: estamos a aguardar os resultados do estudo genético que vai indicar se eu preciso de transplante ou não e em princípio na próxima semana já saberemos. O meu irmão tinha uma viagem de férias marcada de cerca de 5 dias e partilhou comigo que não sabia se ia, pois não queria estar longe caso fosse preciso alguma coisa e não se sentia bem em ir estando eu nesta situação. Falo deste tema pois parece-me comum que surjam questões como esta. Na minha opinião, a vida não tem de parar para quem rodeia uma pessoa nas minhas circunstâncias. Já chega ter acontecido isso comigo, não tenho de arrastar mais pessoas, embora entenda que quem está de fora possa não se sentir bem em fazer este tipo de coisas. Mas se pensarmos bem, se me acontecesse alguma coisa, o que é que ele podia fazer? Nada. E a mim deixa-me feliz saber que as pessoas estão a aproveitar a vida. Aliás, que isto sirva para que todos vivamos mais sábia e intensamente. Desde que recebi o diagnóstico, ele voltou a treinar regularmente e isso também me deixou orgulhosa. Trouxe-me uns chinelos incríveis que são a minha cara, para além de perfeitamente confortáveis! "More fiesta, less siesta" diziam eles. E que bom lembrete se tornaram!
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