Faz hoje um mês desde que cheguei aqui, desde que soube o que afinal provocava todo o cansaço que sentia, entre outras coisas (um dia conto). Acordei bem-disposta, uma vez mais cheia de vontade de tratar de vidas! Queria tornar o dia produtivo. O médico disse que os valores ainda estavam baixos, mas que parecia que queriam subir e que, se subissem o suficiente, no fim de semana podia ir a casa. Era também dia de largar todos os antibióticos porque já não tinha febre há uns dias. Pintei uma mandala a ouvir Mallu Magalhães, sons da Natureza e Salsa. Esta é uma das minhas formas de gerir ansiedades e de trabalhar o foco no momento (uma das muitas prácticas de Mindfulness). Perante tal notícia, comecei a organizar a minha ida a casa, para que tudo estivesse a postos para me receber! Liguei à associação através da qual adoptei a Xi e a Pandora e pedi-lhes que tratassem do banho delas para reduzir a probabilidade de eu apanhar alguma coisa, uma vez que as minhas defesas estavam baixas. Enviei um e-mail à minha Psicóloga para a contextualizar e marcar consulta. No fim de tudo isto, recebi uma chamada de uma pessoa muito próxima que me disse que em dois dias ia estar no IPO a fazer uma intervenção para remover um tumor. Senti uma revolta enorme que nunca senti desde que soube o meu diagnóstico. Uma grande vontade de dizer "Foda-se!" e mandar tudo à merda. Acumulei uma carga negativa muito grande dentro de mim. Mas esta porra desta doença não nos larga? O que se passa?? O processo dessa pessoa era mais simples do que o meu, mas ainda assim... Não queria que lhe tivesse tocado a ela. No momento em que recebi o meu diagnóstico, pensei "Antes eu do que eles. Eu aceito isto em nome dos meus e para que nunca lhes toques.". Muitos dirão que é utópico pensar assim. Mas se me ajudou a aceitar, porque não? Não queria estar com ninguém. Precisava de me conectar comigo para conseguir expulsar as emoções negativas e encher-me de energias positivas para as transmitir a essa pessoa. Já era muito tarde para dizer ao meu pai para não me vir visitar. Tentou distrair-me, mas na verdade não era disso que eu precisava. Comecei a sentir-me enclausurada, que este quarto era demasiado pequeno para mim e para tudo o que estava a sentir. Pedi para sair do quarto, mas naquele momento não podia. O ambiente estava tão pesado que, também a meu pedido, o meu pai acabou por ir embora, triste e a sentir-se impotente claro. Mas, como lhe expliquei, não havia nada que ele ou alguém pudesse fazer. Eu precisava de viver aquelas emoções e nestas alturas prefiro estar sozinha. Não me sinto melhor por fazer das pessoas o meu saco de Boxe, bem pelo contrário. Fui dormir e não fiz as chamadas com amigos que tinha programado, mas, uma vez mais, não estava com disposição.
Uma vida que se pode chamar de louca. Não o "louca" de outros tempos, mas o "louca" destes. Que gosto dá celebrar assim a vida, vivendo-a com todas e tantas ferramentas que tenho à minha disposição hoje. Não "todas" as de outros tempos, mas "todas" as destes. Depois de dias que, de tão preenchidos e corridos que foram, se tornaram semanas e até mesmo meses sem vir aqui ao meu querido caderno, hoje, a 17 de Agosto de 2024, não consegui terminar o dia sem expressar em palavras todas as imagens que me têm vindo à cabeça relativas a este último ano. Foi há um ano o dia em que saí, por fim, do internamento de 45 dias em que fiz o Transplante de Medula Óssea a que sempre chamei de "pior fase da minha vida", em que me encontrei despida de tudo o que me caracterizava, onde deixei de ser a que também nos dava força a nós - aqueles a quem esta maldita doença e tudo o que ela acarreta tocou: eu, a minha família, os meus amigos e os meus p...
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