4 meses. Sim, já passou todo este tempo. Mas tudo isto continua a parecer
uma eternidade por todo o tempo que poderá faltar. Começo a sentir cada vez
mais a ânsia de chegar ao fim. No entanto, já percebi que ganho mais se a
contrariar e se tentar pensar em aproveitar este tempo e focar no presente
enquanto a recuperação decorre, em vez de estar desejosa por passar para a
próxima etapa. Na verdade, ainda há algumas coisas que quero fazer antes do
transplante.
Na semana passada esta ansiedade tornou-se incapacitante. Andei sem
vontade de fazer nada e perguntas como "Queres fazer isto ou aquilo?"
faziam-me desatar a chorar por me sentir totalmente perdida, sem rumo, por não
ter resposta para uma pergunta aparentemente simples. Por um lado, só queria
estar sozinha, com o meu querido caderno, que sabia que definitivamente só me
ia ouvir, sem qualquer retorno: genuíno, por compaixão; ou forçado, para calar
um silêncio que pode revelar-se doloroso para todos os presentes. Não condeno
nada disso, porque no fundo são tudo demonstrações de amor e o melhor que
sabem. Por outro lado, confesso que estes dias teriam sido bem piores se não
tivesse os meus perto de mim, porque, ao chegarem a casa, acabam por enchê-la
com algo que eu não consegui até então: a simples vida a acontecer.
Hoje,
mesmo não tendo dormido bem e andando nesta saga há já umas semanas, estou
cheia de energia! Tratei de louças, roupas, fiz sopa, escovei e passeei as duas
canídeas (como costumo dizer: 40kgs a puxar), fiz refeições decentes a horas
decentes, vou fazer o jantar, entre outras coisas. Por isso, por fim, um bom
dia em casa!
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Recuando cerca de dois anos e meio no tempo, para vos contar como foi a fase de tentativa de controlo da Leucemia, condição obrigatória para ser elegível para o Transplante.
Durante a minha segunda linha de tratamento, uma terapêutica dirigida à mutação genética que originou a minha Leucemia e que praticamente não tinha efeitos secundários, felizmente foi-me sendo devolvida alguma qualidade de vida. Pude fazer o tratamento em casa, com a toma de comprimidos, e ir ao IPO para monitorização e para receber transfusões de sangue enquanto a doença estava a ser controlada e os valores instáveis, tendo passado apenas por um internamento curto de 8 dias. Fisicamente fui-me sentindo melhor e, com isso, a capacidade para estar consciente de todo o processo foi sendo maior: o que aconteceu, o que estava a acontecer e o que ainda aí vinha. Esta foi (mais) uma fase psicologicamente desafiante, em que a espera pelos resultados do mielograma (exame de avaliação da medula óssea) me deixava neste estado, em que acordava a tentar perceber pelos meus sintomas ou ausência deles se o tratamento estava a fazer efeito ou não, em que claramente estava traumatizada por a primeira linha de tratamento não ter funcionado e receosa de ouvir essa mesma notícia novamente. Nesta altura, para mim, um dia bom era muito isto: fazer coisas, fosse o que fosse, por oposição àqueles em que a cama parecia ter um íman chamado "anemia e sintomas depressivos".
E estas amigas que em alturas destas nos tiram de casa e nos levam a passear a Viana do Castelo para desanuviar um pouco? É conservá-las ❤️
Consegui subir ao Zimbório do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, graças à transfusão de sangue que tinha feito uns dias antes 🩸
Obrigada a quem doa 🫶
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